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A garota era normal e feliz. Todo dia tinha uma nova piada ou brincadeira, e se não o tinha fazia cócegas nas amigas, sempre satisfeita ao arrancar um sorriso.
Tinha longos cabelos enrolados e um sorriso aparelhado. Não era muito bonita, mas não se importava.
Mas foi então que repentinamente sua alegria começou a diminuir. Usava roupas pretas e conheceu o delineador, de quem se tornou íntima confidente. Calças justas e um adeus à longa cabeleira coroou o começo de uma desastrosa transformação.
Fez novos amigos e se afastou dos antigos. Começou a se interessar pelo mundo negro de que zombava, e viu-se preenchida por ele.
Ela se baseava apenas em uma amizade. O resto era descartável, secundário. Mas quando essa amiga deixou-a de lado, o mundo que equilibrava em uma corda bamba caiu.
Ela parou de estudar. Só pensava na amiga e em como não era justo, se havia aberto mão de tudo por ela e era tratada como um estepe.
Ela finalmente se abriu com seus pais e disse que não aguentava mais a vida. Se fechou no apartamento e não mais abriu a porta. Ficava trancada no apartamento o dia inteiro para a noite subir na cobertura e se confessar à lua, pois já não tinha confidentes na Terra. Não confiava nem em seus pais, dos quais já tinha escondido tanto que não dava mais para contar a verdade.
E finalmente parou de confiar em si mesma. Duvidava de suas promessas e suas falas. Duvidava de sua respiração e suas certezas. Se rabiscasse um ponto de interrogação na mureta do prédio, também o questionaria.
Nunca questionou a amiga, nem mesmo em seu último suspiro, na última vez que saiu do prédio, não pela saída comumente usada, mas por aquela dos desesperados.
Em sua lápide, por pedido que estava na carta de adeus, a inscrição:
Agora lembra de mim? Pois eu nunca te esqueci.
E toda manhã amanhecia com os mortos uma rosa deixada pela amiga, em prantos.
Lara Vic.
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