Pauta para projeto bloinquês, 70a. edição visual
Eu queria a foto perfeita.
Naquele dia fomos até uma represa no meio da estrada, famosa por suas mágicas corredeiras. Havia histórias sobre lá, e eu queria tirar uma foto para poder olhá-la e sentir esperança e inspiração em meus momentos depressivos que toda artista tem.
Minha irmãzinha sentava no banco de trás do carro, emburrada, quase escondendo seus olhos sob a grande cabeleira loira que ambas herdamos de nosso pai. Eu estava animada, mas ele queria ir para o zoológico. O que eu podia fazer? Meus pais me obrigaram e levá-la.
Eu havia trazido duas câmeras. Uma profissional, o melhor presente que já ganhei, e outra digital, pequena e à prova d'agua.
Sentei minha irmã na pequena mureta, e pouco a pouco fui tirando a carranca de seu rosto, mostrando as molduras e os filtros que ela podia usar.
Satisfeita vendo-a fotografar outros turistas desavisados, pulando de felicidade dizendo que a sépia era como uma foto do passado.
Gargalhei quando ela, pálida de pavor, me mostrou uma foto sépia de um homem atendendo o celular, e disse que ele era um viajante do tempo, porque não existe celular no mundo das fotos sépia.
Segura de que ela não faria nenhuma besteira, tirei meu agasalho protetor e me soltei como realmente sou: Uma captadora de momentos, como eu gosto de me intitular.
Sentei na mureta e fiz um, dois, três ângulos bonitos com a luz perfeita, mas não era o que eu queria.
Busquei uma foto mítica, uma foto romântica, e até uma foto sépia por insistência da criança que repentinamente ficou fascinada com meu trabalho.
Ela disse que quando eu estava atrás da lente de uma câmera meu sorriso brilhava e meus olhos passavam magia. Me perguntei como raios ela sabia isso, se eu não sorria quando fotografava, e meus olhos estavam cobertos pela câmera?
Ri mais um pouco quando ela começou a dar estrelas me implorando para fotografar. O dia estava tão feliz e descontraído que cedi ao seu pedido.
Olhei as fotos e, pasmada, percebi que foram as melhores do dia.
Experimentei fotografar como uma criança. Coloquei uma perna de cada lado da mureta e deixei me levar pelo som da água. Uma foto agachada, uma inclinada, uma de pé, uma de cabeça pra baixo! Mas nenhuma saiu como eu queria.
Desisti, finalmente, pois estava anoitecendo. Com dificuldade consegui colocar minha irmã de volta para o carro prometendo que voltaríamos depois. frustrada, dirigi até em casa.
Como sempre aprendi, mandei todas as fotos para revelar. Por insistência dos meus pais, levei as de minha irmã também.
No dia seguinte fui buscá-las, cada qual em um envelope diferente. Joguei as de minha irmã no quarto dela e fui estudar.
Alguns minutos depois ela entrou sorrateira e me deu um porta-retratos. Nele, havia uma foto minha, tirando foto da paisagem.
A luz, a cor, a emoção... Perfeita.
A garota da foto não podia ser eu. Ela parecia estar sorrindo, mas eu não sorrio quando tiro fotos. Por baixo da câmera dela eu diria que seus olhos brilhavam, e meu coração pulsava apenas me adrenalina que ela deve ter sentido naquela posição tão perto de um abismo.
Hoje eu vejo essa foto e lembro de todos os momentos, e ligo para minha irmã lá na sua república, para matar as saudades e contar o que aconteceu no meu dia. Ela é minha conselheira e melhor amiga, afinal, foi ela quem me ensinou como tirar a foto perfeita:
Querendo apenas registrar um bom momento.
Lara Vic
Eu não esperava esse final, mas fiquei fascinada ao ver que você escolheu contar a história da foto ao invés da foto que estava sendo tirada. Gostei muito.
ResponderExcluirIsso mostra que, muitas vezes, nós não nos enxergamos realmente. Nós nem nos conhecemos! E quem está do nosso lado sempre sabe muito de nós que sequer imaginamos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
http://anastiehl.blogspot.com/
Uma crônica muito boa Lara.
ResponderExcluirAs pessoas nos veem com olhos que nós nao enxergamos essa é a verdade.
Beijokasssss
Que história linda, flor *-*
ResponderExcluiràs vezes só é preciso ser feliz, sem buscar a perfeição, que ela vem sozinha ;)
Beeeeijão pra ti ;*
tbm nao esperava. eita texto comprido.. mas muito bom ^^
ResponderExcluiré temos que penar nas lembranças perfeitas e não nas imagens,... mas confesso q nao fico com afoto ate ela icar perfeita ^^
Eita texto comprido, mais muito bom 2
ResponderExcluirSuas palavras são muito muito lindas >< temos q penar pelas lembranças perfeitas e não imagens 1+ enfim, parabens por aqui
Gostei muito. Amei o final, das duas irmãs companheiras ...
ResponderExcluirParabéns!!!
Reynaldo