Para a 43ª edição cartas do projeto bloinquês, mais uma carta com a Victória, dessa vez escrita por ela. Fiz ontem mas deixei para postar hoje porque queria fazer a imagem.
Meu nome é Victória. Tenho vinte e um anos e frequento muito esse lugar onde você está. Aliás, esse mesmo banquinho onde você está sentado(a) e encontrou a minha mensagem na garrafa sempre foi meu porto seguro em todas as minhas dificuldades, e por isso achei um bom lugar para "esquecer" essa mensagem.
Eu sei... Isso é um clichê não é? Um pedido de socorro na garrafa. Mas vou te surpreender. Eu não quero ser socorrida, só quero ser lembrada.
Pois é, enquanto você lê isso, eu já devo estar morta. Talvez repousando em um caixão ou boiando nas ondas do impiedoso mar. Quem sabe esse vento frio que você sentiu agora seja eu, dizendo simplesmente que estou aqui!
Bem, minha vida não foi grande coisa. Desde pequena, com uma mãe ausente e um pai amante de cinema, aprendi a ser a pessoa mais dramática do mundo. Minhas emoções eram sempre exageradas. Acho que foi para mim que inventaram a expressão "8 ou 80". Francamente, se não fosse assim, minha vida não teria metade da graça que teve.
O teatro sempre me intrigou. Quando pequena, enquanto minhas amigas vestiam seus tutus e faziam piruetas, eu declamava sheakespere e chorava literalmente sem motivo. Acho que por isso as meninas da minha idade me chamavam de falsa, quando eu era apenas eu mesma: Uma atriz.
Até aí tudo bem. Eu era uma criança meio excluída, mas tinha amigos em quem confiaria minha vida. Foi então que aconteceu. Aos quinze anos, fui sequestrada, praticamente abduzida. Tiraram-me da doce cidade pequena que eu morava (sem nomes aqui, apenas fatos!) e me levaram para uma grande metrópole.
Eu estava literalmente amarrada ao banco de trás do carro, e comecei a fingir um mal estar. Prendi a respiração para minha pele clarear, pisquei muito os olhos e até arrisquei uns bocejos para causar lágrimas. Funcionou. Eles não estavam interessados por garotas fracas para sei lá o que me queriam. Na primeira esquina vazia, literalmente me chutaram do carro.
Eu odiei aquela cidade desde o momento em que toquei os pés nela. Os cheiros, os olhares, parecia um grande inferno cinza.
Mas aí anoiteceu, e o inferno gelou.
Eu estava encolhida no chão esperando para morrer quando ouvi uma criança gritando e cantando, dizendo que ia ao teatro.
Foi como se eu tivesse acordado de um pesadelo. Levantei, e disfarçadamente segui a criança e seus pais.
Ah! Dizer que a invejei foi pouco. Seu agasalho quentinho, cor-de-rosa e os olhos brilhantes que só perdiam para as luzes da grande metrópole. Seus pais a levavam para o teatro, felizes, sorrindo carinhosos.
Naquela noite prometi a mim mesma que isso seria meu algum dia.
Eles chegaram a um grande teatro que brilhava mais que o sol. Meus olhos nunca haviam apreciado coisa tão linda, e desejei ardentemente entrar lá.
Talvez por ter ficado no frio, minha cabeça não estava funcionando bem. Segurei a mão da menina que não falou nada, e entrei sem que seus pais percebessem. Sentei ao lado dela e vi uma peça linda e emocionante, cujo nome agora me escapa.
No meio da peça, a mãe da garota me encarou, e viu que eu não estava acompanhada. Puxou conversa comigo e arrancou uma confissão de como eu entrara. Ficou tão chocada com minha história que me levou para a casa dela, dizendo que no dia seguinte fariam queixa a polícia.
Mas o dia seguinte nunca chegou. Eles gostaram tanto de mim que sempre adiavam o dia de me levar para casa. Matricularam-me na escola, no teatro, e foram para mim uma verdadeira família por um tempo. Teria sido o final feliz se eu não tivesse surtado ao ver os papéis de adoção no escritório do pai.
Naquele dia exigi que me levassem para casa, e a mãe, sem muito o que faze, além de segurar o choro, me levou à delegacia.
Voltei para casa exatamente um ano depois de ter sumido, mas meu pai não estava lá.
Passei a viver com meu professor de teatro, que me dava aulas enquanto eu cozinhasse. Participei de boas peças, mas quando completei vinte anos percebi que meus sonhos eram na grande metrópole, no teatro brilhante. Então fui para lá.
Reencontrei a família de lá e fui recebida calorosamente. A menina tinha agora quinze anos, mas lembrava bem de mim. Ofereceram-me para eu passar a noite lá, e eu aceitei. Demorei alguns meses em peças secundárias, mas finalmente o diretor daquele teatro me chamou para uma peça.
Já tinha formado uma vida na metrópole. Tinha um namorado, e a garota acabou virando minha melhor amiga. Saí para comemorar com eles, quando vi meu pai - não o pai da menina -, mas pai que eu não via há seis anos.
Meu mundo caiu e decidi não fazer mais a peça, porque ele não poderia ver. Vi minha chance escapar por entre meus dedos, e nem liguei.
Mas meus amigos ligaram. Cansado de tentar me convencer, meu namorado me deixou sem mais nem menos. A menina parou de falar comigo por uma cartinha, e finalmente fui convidada a sair da casa dos meus supostos "pais".
Como pode ver, meu mundo caiu. O único lugar onde eu passava meus dias era nesse barzinho onde você está, nessa mesa onde você está sentado, tomando essa mesma garrafa de onde você retirou a carta. Como disse no começo, eu quero ser lembrada, pois a garota e seus pais vão me esquecer. Meu pai faleceu ontem e merece mais ser lembrado do que eu.
Talvez você veja no noticiário sobre um corpo encontrado na praia mais próxima a esse barzinho, porque eu quero um fim bem dramático, para honrar minha vida.
Adeus a você que eu gostaria de ter conhecido, pois você me impediria, sabendo tudo que eu contei.
Guarde minha mensagem e escreva a sua, para esconder na garrafa dessa mesa, exatamente como eu, para que nossa história não seja esquecida.
Agradecida, (Lara)Victória.
Que lindo e forte, gostei muito daqui, desejo muita sorte pra você no BLQ. *-*
ResponderExcluirCriatividade – Sem dúvidas a carta mais criativa até agora. Adorei a forma com que você usou do tema sem ser clichê. A garrafa estar em uma mesa de bar e não no mar foi uma boa pedida. A história da menina é realmente comovente.
ResponderExcluirOrtografia – Cuide a conjugação de verbos. Encontrei vários verbos conjugados de forma equivocada. Cuidar pontos e vírgulas também é uma boa pedida. Uma boa dica é “passar” seu texto no Word revisar a ortografia e gramática.
Tema – Como eu disse antes, você usou do tema sem ser clichê e isso conta bastante para a nota final.
Uma dica em particular seria trocar a fonte do seu lay, eu em particular leio todas as participações diretamente no Word, entretanto para quem lê direto do blog sente a vista cansada, fora que a fonte é meio confusa.
No mais parabéns! Boa sorte e bom sábado!
Um beijo, Vinicius Ferrari – Moderador Cartas Projeto Bloínquês