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18 agosto 2011

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A Mudança


Hesitei em frente a porta fechada. Estendi minha mão lentamente para entrar no lugar que sempre havia sido meu lar. Não posso deixar de lembrar como desejei que lá estivesse nossa televisão e o grande sofá. Não pude deixar de levantar a cabeça para a parede da escada e procurar os papéis que nós grudávamos de lembretes. Segurei o meu álbum de fotos contra o peito com força. Agora ele provavelmente era a única coisa que me ligava a aquele lugar, e ao passado.
Fui até um espaço com janelas onde antigamente havia duas poltronas e um abajur. Sentei no meu lugar de costumo entre as duas poltronas imaginárias, e encarei meu ursinho de pelúcia que fora esquecido na sala. A única lembrança da infância que eu carregara durante os anos. Como me arrependi daquilo no momento.
Segurei-o contra o peito e abri o álbum de fotos. Havia tantas fora do lugar que quando abri milhares caíram no meu colo. Em outra época eu as teria juntado e recolocado no meio do álbum, mas não naquele dia. Naquele dia qualquer lembrança era sagrada.
Cuidadosamente espalhei as fotos em um círculo a minha volta. Meu urso acompanhava tudo com os olhos vidrados. Fotos de casamento, formatura, batismo, namoro, amizades... Estava tudo ali.
A luz do sol dava um brilho dourado as minhas lembranças, e eu sorri. Sorri pela primeira vez dês de que meus pais anunciaram nossa mudança.
Colocadas às últimas fotos, levantei-me e olhei a minha volta. Havia uma aura de lembranças a minha volta, e conforme eu girava para ver todas, me senti como um planeta que trás pequenos satélites a sua órbita.
E foi então que vi.
Não teria nada a ver com sair de minha casa. Não mudaria nada não ter mais o mesmo quarto ou os mesmos vizinhos. O passado era o passado, e ficaria gravado onde sempre esteve: No meu coração.
Por um segundo sorri, e me senti amada por dezenas de fotos com sorrisos vidrados.
Mas o segundo acabou quando a buzina do caminhão de mudança soou.
Ainda feliz, recolhi as fotos e com força segurei o meu ursinho ao lado do álbum. Saí da casa que fora meu lar com um sorriso sem lágrimas. Mudar não estava tirando meu passado. Meu passado estava em mim! Mudar me levava a um novo futuro, e agora, mais que nunca, eu estava pronta para ele.

8 comentários:

  1. Adorei o modo diferente como você teceu a história.
    Emocionante *-*
    rsrs
    beijos

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  2. É realmente como você disse, o passado esta dentro de nós, e não em objetos, é claro que objetos nos ajudam a lembrar de um passado bom, mais as lembranças vividas estarão sempre gravadas no nosso coração e na nossa mente. gostei bastante.
    http://senhoritaliberdade.blogspot.com/

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  3. Seu blog é MUUITO liindo, adorei os textos *--* Irei passar sempre poor aqui ♥

    http://thayshafer.blogspot.com/

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  4. Adorei o texto. Por mais que a gente mude, nunca conseguimos deixar tudo para trás, pois sempre temos um pouquinho do passado em nosso presente.

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  5. "Mudar não estava tirando meu passado. Meu passado estava em mim! Mudar me levava a um novo futuro..."

    Amei essa frase que você usou para mudar a ideia de que mudança causa um sofrimento, uma abnegação, mas não, mudar é só uma escolha que não interfere no nosso passado e sim o nosso futuro e não podemos sofrer por algo que não sabemos como vai ser ainda!

    Beijos.

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  6. Acho legal pessoas com facilidade de se desprender de lembranças e lugares. Mudar, seguir em frente, sei la. A pessoa cresce e aprende. Belíssimo texto, parabéns.

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  7. Texto lindo, Lara. Você escreve muito bem.
    As coisas realmente são assim. O passado nunca nos abandona.

    http://www.garotasdizem.com/

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