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28 junho 2011

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O Piquenique


Alguns minutos antes do Sol nascer, Vânia saiu pela janela de seu quarto com a cesta de piquenique e seu vestido mais belo. Correu até o ponto de encontro e lá arrumou tudo.
Naquela noite, mal conseguiu dormir, tamanha era sua ansiedade para que a aurora chegasse.
Abriu a doce cestinha e tirou de lá tirou um lençol xadrez que serviria de tapete, e lentamente retirou a garrafa de vinho, junto com os pratos de porcelana e o queijo.
Deixou lá dentro ainda um pedaço de pão e uma caixa com bombons. Tudo fora preparado com o maior carinho que ela podia conceber.
Cortava o queijo em fatias enquanto o Sol nascia, e parou por um momento para apreciar a cena.
Viu contra a luz dourada o vulto do seu esperado. Com um sorriso no rosto retomou a tarefa para fingir ser pega de surpresa.
Ouviu os passos na grama ainda molhada de orvalho às suas costas e esperou que mãos conhecidas enlaçassem sua cintura e a levantassem para um beijo. Sentiu a falta do calor do Sol mas ainda o via refletido na faca que segurava, então soube que o esperado estava bem atrás dela. Sentia sua respiração que se juntava ao barulho do coração acelerado enquanto o momento de suspense se estendia.
A sombra foi aumentando e ela viu que ele chegava cada vez mais perto. Já podia sentir o gosto dos lábios que lhe foram proibidos pelo pai. Será que a proibição que tornava tudo isso uma aventura tão emocionante?
Ela o ouviu recostar a bicicleta vermelha na árvore que demarcava o ponto de encontro. Era agora ou nunca.
-Vânia?
Todo seu corpo tremeu quando ele sussurrou seu nome. Sem aguentar mais o suspense, ela levantou para  abraça-lo.
O olhar de tristeza a deteu mais rápido que todas as proibições de seus pais juntas. Era como uma parede de tijolos.
-O que houve? - Ela sussurrou
Ele desviou o olhar. Seus olhos azuis claríssimos pareciam conter a pior notícia do mundo. Mas ela já sabia, e começou a gritar:
-Não! Não ouça eles! Eles não me conhecem! Você me conhece! Eu te amo! - e lágrimas lavaram o seu rosto em meio a dolorosos soluços.
Ele segurou o rosto dela entre as mãos, e seus olhos ficaram a centímetros de distância. As palavras seguintes foram desnecessárias, pois ela já tinha entendido:
-Eles querem alguém que possa te dar algo que eu não tenho Vânia. Algo que você merece!Eu...
-Mereço mais que amor? - Ela o interrompeu.
-O que é o amor se não uma maldição? - Ele gritou e desviou o olhar. Em seguida continuou - Eu te amo, e quero o melhor para você. Não torne isso mais difícil do que está sendo.
-Então me considere amaldiçoada por você! - Ela soluçava
-Então eu te liberto desta maldição.
Ele se soltou dos braços que o agarravam, virou de costas e disse ainda:
-Faça como se eu nunca tivesse vindo aqui.
Ela calou seus soluços e viu ele desaparecer. Olhou para baixo. Lá estava o queijo que ela cortava e a garrafa de vinho. Sentou-se, e como se ele nunca tivesse vindo, se forçou a colocar um sorriso no rosto e voltou a fatiar. Quando terminou, levantou os olhos para a rubra bicicleta e percebeu que sempre fora intenção dele deixá-la ali. Foi se sentar e encontrou um bilhete na cestinha. Lá, na caligrafia que já lhe era familiar, as palavras aqueciam seu coração.


Faça como se eu nunca tivesse vindo aqui. Como se você tivesse errado o dia do nosso encontro e quando seu pai estiver te esperando dentro de casa fale que eu terminei tudo.
Mesma hora amanhã?


E, sorrindo, ela arrumou tudo e voltou para casa, onde o pai consolador a esperava.

Lara Vic.

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