Não tenho a menor vontade de dormir. O amanhã sobrevém na minha mente como uma eterna ameaça de cobranças e incertezas, mas estou protegida. No meu refúgio, nem que seja ilusório (e talvez pensar nisso quebre a ilusão que o faz ser) o silêncio e a única fonte de luz que eu controlo no mover de um botão parecem congelar o momento num segundo estático que desfruto, deitada na minha cama depois de tanto tempo. Mas a Academia me tirou o segundo a ser desfrutado, e o Golpe, o próprio desfrute.
Hoje sequer tiro prazer do trago de um cigarro, tamanha minha apatia interna (momentânea, o tempo do desfrute do segundo que me foi roubado). Conto a soma de minutos que terei se perder a consciencia agora até os compromissos que terei amanhã de manhã. Sei que o sol iluminará meu quarto e me tirará da cama no máximo as dez, mas não sei o que ocorre que a consciência sempre toma posse de mim antes, entre oito e nove. Conto com esse tempo. Um prazer que me permito é me utilizar dessa singularidade para aposentar o despertador. Por algum motivo o mundo real me chama em silêncio, como o tic tac mudo de um tempo maior.
Sei que mesmo sem meu desfrute o tempo passa. Talvez principalmente sem ele. Só me dou conta quando não há mais tempo.
Ganhei uma agenda no começo do ano. As páginas vazias do passado me assustam, e do futuro me intrigam. No fim, cerro o enigma entre duas capas de couro, no fundo da minha estante... Sei mais sobre meu futuro com o livro de tarôt ao lado.
Qual o tempo usado com uma poesia? É perca ou é ganho?
Que [o] seja. Se eu dormir agora tenho cinco ou seis horas (ganhas, ou perdidas?).
Pelo menos hoje desfrutei o segundo.
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