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13 dezembro 2014

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Carta a 2014

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São Carlos,
12 de dezembro de 2014

Caríssimo Ano Velho,
Ultimamente me pego pensando sobre esta sua passagem na minha vida que se aproxima lentamente do final. Espero que não se ofenda, mas lembro de dizer várias vezes que ela tinha sido uma das piores (se não a pior!) de todas. E recentemente me surpreendi, vendo o apego incondicional que criei com coisas que você me deu, e que eu temo horrívelmente perder.
Já sabia que lhe escreveria há tempos, e me peguei diversas vezes imaginando o que escreveria. Tudo que concebia era uma lista de reclamações amargas regadas à lágrimas e rancor. Encontro-me numa situação interessante, porque apesar de manter as reclamações, tenho medo do fim de sua passagem. Eu aprendi a viver sem o que você me tirou, mas será que consigo viver sem o que me deu?Não sei nem se quero descobrir.
Sabe como são as promessas de eternidade e os compromissos incumpríveis. Ouvi-os todos. Sorri, chorei, mas não prometi o que não poderia fazer. Ao invés de "sempre estarei ao seu lado" preferi o "você sempre estará na minha lembrança". Alguns se incomodaram, mas não entendem que para mim o "sempre" é uma palavra indescritivelmente séria, na qual eu só aprendi a acreditar com você.
Se levarmos o "para sempre" para além do último suspiro, a amizade, o amor... Todos acabam no momento do nosso último suspiro. Ai mesmo minhas promessas teriam sido vazias. A eternidade à qual me refiro é tão somente até o meu último suspiro, até porque não sei o que ocorrerá depois.
Todos levamos essa carga de lembranças e carinhos eternos que nos marcam e mudam. Lembro que uma vez escrevi que palavras de amor não têm culpa de terem sido destinadas a um amor malfadado, e não merecem queimar por isso. Mas é engraçado como elas ficam diferentes, cheias de um sentimento pulsante que já morreu. Cumpriram sua função, e agora não passam de lembranças palpáveis. Acho que entendo o que me levou a escrever essa carta finalmente. Te transformar numa lembrança palpável.
Mas que tarefa hercúlea esta: Fundir todos os medos, alegrias, surpresas, conquistas, poesias... Em uma lembrança. E ainda saber considerá-la boa ou ruim.
Certamente não seria minha lembrança mais doce e, mesmo sendo a mais amarga, talvez não seja tão amarga quanto eu imaginei. Faz algum sentido?
Não sei bem como terminar essa carta. Não sei o tipo de despedida que devo fazer a isso que se encerra e sequer se ela será tão significativa depois de tudo o que já aconteceu. É difícil te escrever diretamente. Imagino o que responderia se pudesse. Alguns pedidos de desculpa seriam muito bem aceitos, mas por fim acho que só diria que coisas piores e melhores virão, e ficar se lamentando não adianta nada.
A menos, é claro, que depois vire poesia. Mas ainda assim enjoa um pouco.
Adeus Ano Velho, você com certeza deixou suas cicatrizes, mas percebo que foi bem mais do que isso. Como o tempo no geral, você me ajudou a amadurecer e mudar, e quanto à qualidade, cabe a mim decidir.
Um último pedido: Eu gosto de mudar. Quero mudar. Mas não quero perder o passado, como já fiz tantas vezes. Me deixa levar esses que você me deu ou manteve, não só na lembrança.
Aproveite seus últimos dias, porque eu certamente estou tentando.
Sua
Lara Vic.

Já tem um tempo que queria escrever sobre esse ano. É uma coisa que todo ano quero fazer mas nem sempre lembro. Enfim, essa foi a maneira menos melancólica e chata que eu achei kkkk
Espero que gostem :)

3 comentários:

  1. Minha linda!!! A vida sempre nos dando e nos tirando... Assim será até o fim! Love you
    Jac

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  2. Lá vai esse ano. Deixará saudades como você diz. O ano novo virá e também deitará rastros na sua lembrança. Você está amadurecendo devagarinho. Vai aí que muitas coisas ainda vão desenhar seu caminho. Carinho, Vó

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  3. Beijos. Muito legal este texto.

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