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14 abril 2012

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Memórias que Nunca Voltarão

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Ao ver as duas garotas andando pelas ruas de Paris, você facilmente poderia chamá-las de amigas. Pelo jeito que andavam, riam, provocavam, até mesmo decidiam dançar as vezes no meio da rua.
Cecília e Luana eram muito mais que amigas. Apesar do sangue bombeando em seu corpo ser diferente, o sentimento era o que poucos irmãos teriam um pelo outro. Elas mesmas tinham dificuldade de lembrar por que tinham ficado amigas, mas isso realmente nunca importou.
O dia estava chuvoso e parecia que uma sépia tinha se baixado sob os olhos dos parisienses. Os costumeiros ''bom-dia'' tinham sido trocados por olhares respeitosos, e dessa vez não havia nem mesmo dois pontos de alegria que pudessem fazer emergir um sorriso ou outro por baixo da máscara de seriedade que todos encontravam tão fia em seus rostos. Por algum motivo a cidade parecia de luto, mas ninguém realmente entendia o motivo disso. O clima era pesado no coração de todos.
O vendedor de tabaco ficou procurando Cecília em meio á chuva fina que fazia um véu em sua vista. Ele sabia que mesmo que o mundo caísse a garota iria religiosamente ali, para comprar o fumo de seu pai. Mas ela não apareceu.
Lá por perto a bibliotecária ajeitava os óculos na ponta de seu nariz pela décima vez, o que expressava seu nervosismo. Luana nunca se atrasava para ajudá-la a guardar os livros novos, e, mesmo que faltasse, Cecília sempre vinha avisá-la o motivo.
Naquele dia as meninas não apareceram, quebrando suas tão definidas rotinas. E mesmo na semana seguinte, ninguém as viu. Mas não é que elas tenham sumido, mas apenas que ninguém as reconhecia separadas na rua, com olhar sério e olhos levemente inchados.
O que houve com o par que transformava as vielas barulhentas em salões suntuosos cheios de música? Onde estavam as risadas, e os olhares cúmplices? Ninguém nunca soube dizer o que terminou com aquele vínculo tão forte, nem mesmo elas depois de um tempo.
As meninas cresceram e seguiram suas vidas. Luana saiu de Paris, viajou o continente e, alguns dizem, o mundo. Cecília ficou, e acabou criando uma família. Elas nunca voltaram a se ver, e, talvez em um certo ponto de suas vidas, tenham esquecido uma da outra.
Mas eu nunca esquecerei das duas jovens dançando em frente á minha casa. Seus sorrisos, seus passos, sua alegria... Não acho que elas saibam como mudavam vidas sempre que saíam de casa, exalando otimismo como se fosse um perfume. Ainda hoje, olho para a esquina, esperançoso, aguardando que Laura apareça dando piruetas e Cecília logo atrás, conduzindo-a com elegância.
Mas vejo apenas fantasmas de memórias distantes que eu sei que nunca voltarão...

Homenagem ao fotógrafo Robert Doisneau. Quando vi o nome dele hoje no google cacei algumas fotos e essa me tocou especialmente... Porque me lembrou velhos tempos. Desculpem por não ter escrito, tive simulado e prova essa semana, e estou me vendo com cada vez menos sentimentos para escrever. Uma pessoa pode virar uma casca vazia? Talvez este seja um bom tema para escrever da próxima vez.
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8 comentários:

  1. Linda história Lara!
    Isso de não ter sentimentos para escrever é normal, também passei por essa fase. Confesso que para os amantes das palavras não é fácil. Tenha um pouco de paciência logo logo você volta a ter inspiração! (:

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  2. As amizades podem comerçar com pouco e terminar por menos!
    Beijos

    http://alwayspoisonlove.blogspot.com

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  3. Lara... essa é você sem inspiração? Imagino então quando estiver realmente inspirada! :D

    Ficou boa a história, gosto quando o narrador apenas descreve o que se passa diante de seus olhos, sem ter saber de fato o que se passa no coração dos personagens envolvidos. As amizades são assim... nascem por acaso, brilham intensamente e às vezes simplesmente morrem.

    O vazio é sempre um bom tema para um próximo conto. E seus textos sempre merecerão comentários.


    Beijão.

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  4. Terminei de ler quase chorando, acho que estou com uma tpm um tanto quanto forte...
    Algumas amizades não deveriam acabar nunca, algumas deveriam ser eternas de tao valiosas que são... A tristeza é saber que existem muitas Lauras e Cecílias no mundo que se afastam sem nem saber o motivo e perdem assim mais que uma amiga, uma irmã de alma.

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  5. Wow, maravilhoso! Parabéns e obrigada pela homenagem a esse fotografo maravilhoso, eu amo fotografia e adorei seu texto.

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  6. é... a inspiração vem de imagens também. eu já fiz isso antes. é legal deixar se levar pela imaginação.
    e curti o conto. singelo e triste ao mesmo tempo.

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  7. Você seeeeeempre me surprende!
    Sua criatividade é cativante, eu amo o modo como você tece as palavras.
    E, cá entre nós, somos duas cascas vazias, também estou me sentindo assim. ;)

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  8. Adorei a foto e adorei o texto! Como já disseram, você tem um bom jeito pra escrever!


    baci ;*
    cfhell.blogspot.com

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