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30 março 2012

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Escuridão


Escuro. O ar falta em meus pulmões e a culpa me corroi por dentro quando lembro que quebrei a única promessa que já havia feito a mim mesma: que nunca ficaria no escuro novamente.
Minha casa era escura, meu quarto era escuro, minha mente aos poucos fechava as janelas para qualquer luz de esperança que pudesse aparecer na minha frente, e não foram muitas. Meus pais brigavam o tempo todo, brigas feias, cheias de gritos, lágrimas e tapas. E eu me escondia dentro do armário, no escuro, para não ser vítima da violência deles.
Fui crescendo. O armário começava a ficar pequeno, e minha vontade de me esconder também. Eu havia cansado de temer aqueles que eu queria amar.
Foi quando cheguei no meio de mais uma das brigas deles. Eles usavam palavras de baixo calão que eu não conhecia sem sequer se importar com minha presença. Quando minha mãe me viu me incluiu na briga. Disse que não podia fazer nada porque tinha que ficar cuidando "daquilo". Meu pai disse que se ela se incomodava devia me mandar trabalhar.
O chão descalço abaixo de meus pés descalços não era tão gelado como o sentimento que eles demonstravam por mim. Fui me encolhendo a cada ofensa, apenas olhando para eles, que agora colocaram a culpa de tudo em mim. Quando eu menos esperava minha mãe me virou um tapa. Forte, seco, doloroso.
As lágrimas nos meus olhos me impediam de respirar. Eu não queria que eles me vissem chorando, mas sabia que não podia sair dali antes da discussão acabar. Mas como eu queria chorar...
Recuei passos lentos até a parede, e lá escorreguei para o chão. Encontrei o rosto com os joelhos, e lá, no escuro, derramei minhas lágrimas.
A briga deles foi aumentando, como sempre fazia. Imaginei que eram dois monstros, que na verdade meus pais reais haviam me perdido e aqueles dois estranhos haviam me roubado apenas para ter uma pensão do governo. Desejei tanto, mas não ousei abrir os olhos para ver que aquilo não ia acontecer. Fiquei horas intermináveis em minha própria escuridão, esperando aquilo acabar...
Depois daquele incidente não presenciei mais nenhuma briga. Nenhuma, porque eles me abandonaram. E então tudo que eu pude fazer foi tentar me virar nas ruas.
Hoje, sendo presa por tráfico de drogas e colocada novamente em uma cela escura, pergunto o que teria acontecido se eu tivesse saído da escuridão quando tive chance. Mas que outra atitude uma menina de sete anos teria tomado?

Uau, esse foi forte eim? Haha, eu queria muito participar dessa edição visual, porque amei a imagem. Acabei fazendo um conto sobre a violência na casa das pessoas mais pobres. Pensei até em dizer que o pai dela matou a mãe, mas é muito drama pra uma história só né?
Escrevi ouvindo Slipknot, o que ajudou no clima negro da história haha.
Domingo tem outro, aguardem ;D
Comentários?

6 comentários:

  1. Nossa, essa história é forte mesmo Lara!
    Descreve bem a realidade das pessoas carentes que muitas vezes procuram o caminho errado porque não ganharam uma oportunidade de ser diferente, melhor. Parabéns!

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  2. Que história fantastica, menina! Amei o texto. Parabéns pela participação, espero que você consiga.

    Quando somos pequenos e sem saber o que fazer ou para onde ir, somos obrigados a presenciar coisas que não são agradaveis e viver talvez, uma vida que não vai ser lembrada como boa no futuro. Infelizmente, uma criança não tem muito o que fazer a não ser tentar fugir do seu próprio jeito.

    Demais, amei!

    Beijos,
    Monique <3

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  3. Foi forte! Mas gostei da história.
    É pena o que uma crinça tem de assistir não podendo fazer nada. E mais triste ainda quando os adultos não têm consciência nenhuma do que fazem.
    Beijos

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  4. Muito bom Lara, realmente foi pesadão, mas real na medida certa.


    Grande abraço.

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  5. Realmente é complicado ter uma criança meio que no dentro da briga dos pais, eles deveriam pensar no filho antes de tudo. ):
    Gostei do conto.
    Boa sorte!
    Um beijo

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  6. Muito forte, mesmo, tremendamente forte! Mas ficou bom demais, desses textos que bate na alma sabe?
    A Larinha deixa eu te falar, minha vida ta uma bagunça, to estudando demais, ainda tem cursinho e colégio, ta uma loucura, me desculpa se eu sumir as vezes;.

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