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01 julho 2011

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Carta a Um Desconhecido

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É engraçado escrever uma carta a alguém que eu não conheço, e sei que nunca conhecerei.
Só acreditei que você, por ser humano, provavelmente deve ter amigos e família, e deve ter se perguntado o porque de um ato tão estúpido.
Talvez seja presunção minha acreditar que meu caso será especial, que todos chorarão por mim, mas acho que a única coisa que me deixa um pouco mais feliz é essa esperança.
Eu não tenho certeza porque estou fazendo isso. Talvez  um dos meus momentos de loucura tenha tomado conta de mim, talvez tenha ficado estressado com o trabalho...
Não tenho certeza do motivo, mas o farei mesmo assim.
Talvez para não irritar mais ninguém ou para não ser irritado. Para não ter de trabalhar ou ser cobrado. Acho que a vida simplesmente perdeu o sabor para mim.
"Pobre idiota", você deve estar pensando. "Não deu valor aos familiares que o amavam".
Você acha que não pesei na balança cada sentimento que tinha relação a mim? E mesmo não valendo a pena, eu continuei, mesmo sendo desprezado...
Mas então um dia eu fui no enterro do pai de uma amiga, e antes do senhor ser enterrado, dei uma volta pelo cemitério.
Reparei como os entes queridos gostam de fazer coisas que não fizeram pelos mortos. As últimas palavras de carinho, o túmulo bem bonito e grande...
Fale para quem se importar com a minha morte a mesma baboseira com a qual já está acostumado. A vida não valia a pena, a tristeza me consumia... Mas que quero que uma pessoa saiba que na verdade eu simplesmente queria ser amado... E como vi que isso será impossível com o coração batendo, bem... Você já sabe como e onde fui encontrado.
Não quero um grande alarde. Para que ser lembrado como o idiota que acabou com a própria vida? É mais fácil avisarem minha família e amigos e peça para que não façam nada de mais. Uma cremação já está de ótimo tamanho. Não estarei ali mesmo.
Despeço-me de você, que deve ter uma vida melhor que a minha, pois trabalha, e se deu ao trabalho de ler toda esta inutilidade, para não dizer procurá-la no meu bolso.
Diga adeus a todos por mim, e que sua vida seja mais longa que a minha.


David Antônio


Esta carta suicida foi entregue a uma legista que pensava em se matar. Depois de lê-la, ela voltou a falar com os pais e reatou com o namorado. Hoje ela relembra de cada palavra gravada em sua memória, enquanto acaricia a cabeça do filho de dez anos. A morte de David foi o passaporte para sua vida.

4 comentários:

  1. Comovente texto Lara.
    Beijokas

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  2. Honey, você escreve muito bem. Seus textos sempre me deixam boquiaberta, literalmente. Este texto é lindo, sincero. Eu nuca pensaria em algo assim. Parabéns pela criatividade.
    Bjo! (:

    http://miasodre.blogspot.com/

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  3. "Pequenas coisas podem fazer grandes diferenças" - Para muitos esta carta pode parecer uma bobagem, mas se forem observar esta "bobagem" mudou a vida de uma pessoa e pode ter mudado a de muitas outras pessoas que a leram.

    Amei o seu blog, realmente muito lindo. - http://particulargsantos.blogspot.com

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  4. Lindo e adorei a maneira com a qual voce combina textos e imagens nesse seu blog maravilhoso. Bjs

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