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03 julho 2012

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Pesadelo Real


Uma garota com a gorro vermelho, andando na estrada de terra com uma cesta de doces na mão. Eu pensei em chamar seu nome para ver seu rostinho sorridente mais uma vez, porém percebi que ela já estava muito longe, e minha voz se perderia no vento.
Não, isso não é um conto de fadas, está mais para minha historia de terror pessoal. A última visão que eu tive de minha filha, antes de ela se embrenhar na floresta fechada contra minhas ordens, e acabar desaparecendo por lá.
Talvez tenha sido egoísmo, preguiça ou estupidez minha mandar a menina entregar os doces em uma casa tão longe, como é a de minha mãe. Poderia fazer o percurso em alguns minutos de carro, mas estava tão ocupada, e Nicole queria tanto sair, que achei que fosse a melhor opção.
"Não fale com estranhos, não se desvie do caminho, volte antes das seis horas!"
A garota assentia com os olhos verdes brilhando como duas esmeraldas. Ela nem mesmo recusou colocar o casaco com o capuz vermelho. Não reclamou das vezes que eu a mandei recitar o caminho, e, finalmente me dando por satisfeita, deixei-a ir.
Só percebo agora a ironia da cena, copiando o tão conhecido começo da história dos irmãos Grimm. Nunca imaginei que ela pudesse me desobedecer, ainda não imagino. Por isso só posso imaginar o pior, que algo a tirou do caminho. Que não há nenhum lenhador gentil que possa salvá-la. Que ela está sozinha.
Ando em círculos na frente de casa, olhando ocasionalmente no relógio de pulso. Nicole era pontual, e já se passavam das sete. Lágrimas riscavam meu rosto, onde estava a garotinha...
Seu pai fora procurá-la no caminho, e depois começou a traçar possíveis atalhos que ela poderia ter tomado. Me mantinha informada sobre tudo no telefone, e eu me sentia inútil, em casa, caso ela chegasse.
Finalmente acionamos a polícia. Na noite do outro dia eles encontraram-na. Estava gelada, suja, mas sua expressão... era como se estivesse dormindo tranquilamente.
Iniciaram uma infinita investigação... e depois de um mês, encontramos o responsável. A unica coisa que eu lembro de sua fisionomia era uma tatuagem de lobo no antebraço. Ela era tão real que ao olhar você ficava hipnotizado. Os olhos do lobo brilhavam muito mais que os olhos do homem.
Quando ele confessou, as palavras passaram frias por mim. Como ele conversou com ela, como ele a convenceu de que havia um caminho mais curto... E mesmo assim ela não quis ir. O que ele fez depois... Foi simplesmente deixando de fazer sentido, como se fizesse parte de um sonho distante. De algum pesadelo antigo.
O lobo pegou cinquenta anos de cadeia. Eu achei pouco, mas não podia fazer nada. Tive que continuar minha vida, apenas com meu marido como apoio, lembrando constantemente desse pesadelo. Agora ele mesmo me abandonou, e eu não aguento mais viver sozinha. Desculpe Nicole, nos encontraremos em breve...Quando eu sair deste pesadelo dos irmãos Grimm.

Não é minha melhor obra, de fato, mas ao ver essa imagem eu só poderia escrever algo relacionado ao conto dos irmãos Grimm. Sim, ficou sombrio, mas não se deve esperar muito mais de alguém no meio da noite ao som de My Chemical Romance não acham?
Espero que gostem. Comentem de qualquer maneira ^^

4 comentários:

  1. Uaaaaaaaaaaaaaau!
    Sombrio, mas fantástico! *-*

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  2. há aquela velha interpretação de que Chapeuzinho,na verdade, estivesse "tentando seduzir o lobo". Well, sob o ponto de vista psicanalise, Chapeuzinho estaria entrando naquela época da puberdade. e estivesse passando por uma provação. claro que,também por outro ponto de vista, o lobo seria "o sedutor". muitas coisas a se considerar. mas, você pegou legal essa interpretação, e fez um conto moderno.curti.

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  3. Muito bom esse contraste do conto da Chapeuzinho Vermelho com os dias de hoje.

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