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15 junho 2012

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A Figurante

Talvez esse fosse o ponto da história onde o autor achou melhor que o personagem principal tivesse uma crise de personalidade. Ou talvez o secundário. Poderia ser somente alguém no fundo, para preencher as ruelas vazias da mente dos leitores. Como seria o nome deste? Figurante.
Talvez ele esteja apenas começando o conto. A história ainda está se entrelaçando em sua mente, e o final lhe é obscuro. Um autor realmente sabe o final de sua obra, até terminá-la?
A voz do narrador é carregada pelo ar, tecendo feições, dias, momentos. O autor desliza a caneta com suavidade, enquanto descreve tempestades temerosas, ou escreve voraz, tentando não perder a ideia daquele genial discurso romântico. E lá estou eu, sentada, observando. Apenas uma figurante, parte da paisagem. Os ventos e tempestades passam por mim, que nada faço além de assistir.
E por que faria mais que isso? É o papel que me foi designado. Ficar no fundo, vendo o personagem principal passando alguma coisa horrível, e sem poder alcançá-lo. Faz parte de um personagem figurante se contentar com o que o destino lhe reservou. Sorrir quando deve sorrir, chorar quando deve chorar, morrer quando deve morrer. Sem reflexão, sem nada.
Será que eu conseguiria mudar isso? Não, acho que não. Porque Ele não permite. Ele quer que eu fique aqui atrás, chorando, e é isso que eu devo fazer, esperar, em prantos, o personagem principal, e fazer-lhe alguma revelação.
Mas dessa vez são lágrimas reais por minha fraqueza que contornam meu rosto, a fraqueza de ser incapaz de lutar para ser a personagem principal de minha própria história. 
Por que? Por que outra foi escolhida, e não eu? Quem poderia ter tal poder, a ponto de dizer quem segue seus sonhos e quem fica olhando, sem coragem de criar alguma expectativa que possa ser quebrada?
Limpei as lágrimas quando cheguei à minha conclusão. Ninguém, ninguém deve ter o direito de mandar tão profundamente em outra pessoa, mesmo que ela não seja real. A menos que a pessoa permita.
Levantei de onde estava sentada, e andei sem rumo. Depois de pouco tempo, o vento murmurou no meu ouvido:
-Onde você está indo? Ele passou lá e não te viu chorar.
-Estou trilhando meu próprio caminho - falei, simplesmente.
-Como assim? Eu posso te ajudar, te dar um final feliz!
Sorri. Eu já participara de muitas historias com finais felizes. Era enjoativo.
-Finais felizes são para historias que ainda não acabaram. Eu quero escrever a minha história.
Um silêncio glorioso me envolveu, quando ele ficou sem resposta e decidiu me deixar partir. Caminhei sem olhar para traz, sabendo que ele tecia a imagem da minha partida de sua historia. Talvez uma silhueta esguia andando contra o pôr do Sol, eu nunca saberia, porque não me interessava o final que ele me daria.
Eu estava indo narrar a minha história.

Dia doze foi meu aniversário, parabééns! kkkk
Ai gente... to com mais umas duas historias para escrever aqui. Nenhum poema, me perdoem, mas só de escrever isso aqui... Faz tempo que eu queria escrever um texto sobre elementos de texto. Tentei umas dez vezes, e nunca saiu direito. Fico feliz que dessa vez deu certo. Fico feliz de postar de novo depois de tanto tempo.
Digam, o que acharam? Amei a imagem demais, achei que combinou totalmente!
Comentários?

6 comentários:

  1. Texto fantástico, Lara! De arrepiar! Parabéns! Você conhece o livro "Nenhum olhar", do autor português José Luís Peixoto? Por favor, leia! É um dos livros mais incríveis (talvez o mais incrível) que eu já li. Um dos aspectos fortes é a metalinguagem e o desmembramento do(s) narrador(es). Considere essa indicação como uma tarefa de casa! rs Até mais! PG

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  2. Lara, o comentário anterior apareceu com o nome "Alunos dos Segundos A e B", porque o nome da conta de blog que eu tenho com os segundos anos do Interativo está assim! Aliás, se quiser conhecer: blogdossegundos.blogspot.com.br Valeu! PG

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  3. Belas palavras expressas neste texto! Parabéns! (:

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  4. Acho que simplesmente esse é um dos seus contos mais belos!
    Adorei o tema, velho, e imagem realmente combinou perfeitamente com o texto. Nossa, maravilhoso! A cada dia me surpreendendo mais. (:

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  5. Muito bom mesmo! Muito bem escrito!
    Me fez pensar em tantas coisas, tantos momentos...
    Me fez bem também. Sei que tem horas que devemos seguir nossos próprios caminhos, independente de tudo.

    Lindo texto, Lara.
    Beijos!

    insultosocultos.blogspot.com.br

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