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24 março 2014

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Natalia



Eu invejo Natalia.
Invejo seus olhos azuis como o céu, verdes como as matas, castanhos como chocolate ou negros como a noite.
Invejo seus cabelos rentes ou esvoaçantes, de todas as cores imagináveis.
Invejo suas curvas por menores que possam ser, e invejo seus vícios.
Invejo seu hálito, a textura de sua pele.
Invejo as palavras que ela já pode ter escrito, por mais simples que possam ser.
Invejo suas lágrimas, por mais doídas que sejam, e seus sorrisos.
Natalia nunca me conheceu e já fez diferença na minha vida. Natalia talvez até já esteja morta, ou morando em alguma cidade muito distante. Talvez, só talvez, Natalia nem exista, mas isso não importa.
E se Natalia ler isso espero que não se ofenda, afinal nem a conheço. Nunca ouvi o som da sua voz ou senti seu perfume, e mesmo assim a invejo.
Não me entendam mal. Não é o tipo de inveja de desejar mal alguém. Chame de "inveja branca" se quiser, não sei nem se eu gostaria de ser Natalia se pudesse, porque com todos os males que possuo gosto de ser eu.
Então, por que invejar Natalia? Por que perder tempo escrevendo sobre essa musa que eu nunca vi (e que antes de mim talvez nem musa fosse?)?
Porque alguém a amou. E esse amor a imortalizou.
Alguém a amou tanto, que pediu uma segunda chance. E em diversas esquinas daquela rua você vê o pedido comovente.
Natalia, você deu uma segunda chance? Se rendeu ao amor? Não interessa realmente. Nem isso nem a cor dos seus olhos,dos seus cabelos ou das suas lágrimas.
Mas isso que alguém sentiu por você agora está intrincado na cidade, este emaranhado de infinitas histórias anônimas como a minha, e a sua se destaca porque tem um nome, porque tem lembrança, e da lembrança que só você conhece eu invento meu sonho.
Me perdoe por me intrometer em sua vida não existente para mim. Mal de escritora.
Mas a sua vida apareceu para mim, exposta na parede de prédios decrépitos enquanto eu andava com meus fones de ouvido tentando deixar o mundo fora da minha cabeça.
E Natalia entrou. E eu a invejo por fazer cada pessoa que lê as inscrições naquela rua esboçarem um sorriso, questionarem que fim teve esse romance, e divagarem nem que seja por um instante sobre isso.
Natalia tornou-se para mim uma entidade nas esquinas, praticamente uma confidente, que estaria sempre ali com seu dilema eternizado nos muros.
Natalia, eu invejo sua imortalidade, e divagando sobre isso, ajudo a construí-la.

Quem mora em São Carlos talvez já tenha visto essa pichação por ai. Tem várias na verdade, mas só quando eu fui querer lembrar de um lugar específico pra tirar uma foto foi que deu problema kkkkk
Espero que gostem :)

4 comentários:

  1. Muito bacana, Lara. Siga escrevendo, escreva muito!

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  2. Legal pra caramba Lara! Pra mim Nátalia é a arte que fica imortal para os olhos daqueles que a cilonseguem ler! Bjs

    Hugo

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